Padre que é dono de uma casa de swing pede votos com `diabinhas´
“Te prepara porque tem muita sacanagem, mas não é nada do que vocês está
pensando. É bem diferente”, disse o Padre Roque Rauber, 71 anos,
candidato à Câmara Municipal de Porto Alegre pelo PDT, ao ouvir a
proposta da reportagem de acompanhá-lo em uma tarde de campanha. Ele é
conhecido na cidade por ser dono de uma das mais famosas casas de swing
da capital gaúcha, o Sofazão.
O aviso seu deu pela
forma diferente de fazer campanha. A bordo de um ônibus – o mesmo que
usa para fazer propaganda de seu estabelecimento – ele percorre as ruas
da cidade, acompanhado de duas “diabinhas”, distribuindo santinhos e
provocando reações das mais diversas em quem passava pela rua. “Dessa
forma eu atinjo muito mais gente. Tu acha que isso não dá voto?”,
perguntou o padre após uma de suas assistentes brincar com um motoqueiro
que passava. “O povo quer isso, panis et circenses (pão e circo em
latim)”, completou.
Antes mesmo do ônibus deixar o
ponto de partida, um homem se aproximou do veículo e disse: “mas essas
diabinha são só do padre? De acordo com a igreja católica, temos que
dividir tudo”. A brincadeira já dava o tom do que estava por vir.
Mulheres empurrando os maridos, gente gritando “Sofazão” e outros que
não entediam o que estava acontecendo. “Nós levamos tudo na esportiva,
recebemos todo o tipo de reação, tem gente que se assusta com as diabas,
mas é uma festa”, disse Roque, antes de gritar: “olha um buteco, se
preparem”, já prevendo a reação masculina.
(Foto: Daniel Favero/Terra)
(Foto: Daniel Favero/Terra)
O ônibus não era lá muito novo, de vem
em quando a equipe tinha que arrumar os assentos, decorados com o
símbolo do Internacional, para não cair no chão. “Eu tenho uma ligação
com o Inter, mas ontem estivemos no Olímpico e fomos muito bem recebidos
pelos gremistas”, dizia Roque.
O apelo das diabinhas era obviamente
sexual. Elas gritavam, mandavam beijos e brincavam muito com pirulitos,
seguindo as ordens do padre que gritava: “mostra o pirulito para ele”.
“Comi uns 16 ontem”, dizia Stefany Martins, brincando com o doce na
boca. “Se eu votar no senhor, ganho as duas?”, “o senhor me seu o
santinho, mas e as diabinhas, não dá?”, eram algumas das manifestações
feitas, principalmente, pelos profissionais do trânsito.
Apesar do grande assédio masculino, a
dupla conseguia também interagir com as mulheres. Cada resposta era
comemorada aos gritos. “As mulheres são mais difíceis, por isso
comemoramos cada uma”, explicava a secretária do padre, Eliane Passos.
(Foto: Daniel Favero/Terra)
“Padre, o senhor lembra de mim? Em 2004
eu fui no Sofazão e tinha banho de espuma. O senhor me deu uma cortesia e
quando eu cheguei em casa, minha mulher deu (bateu) em mim porque achou
o papel no meu bolso”, dizia o vendedor de uma loja ao se aproximar do
ônibus. “O tempo todo eu escuto histórias de pessoas que foram no
Sofazão”, dizia o padre.
Segundo Roque, sua fórmula para fazer campanha foi tomando forma aos poucos. “Eu tinha contratado as duas para distribuir
panfletos, mas acabou virando isso. Elas são muito espontâneas, gostam
da festa”, dizia Roque ao elogiar o trabalho que é feito por Stéfany
Martins e Silvana Claro. “O mais legal é a reação das pessoas, você as
vê sorrindo quando o ônibus passa”, completou.
Roque é natural
da cidade de Bom Princípio, a 76 km de Porto Alegre. Na década de 70 se
afastou do oficio religioso, mas diz que ainda é padre. Ele foi para a
capital na década de 90, para abrir uma agência de matrimônio, que mais
tarde acabou virando o Sofazão. “No começo eu me escondia, tinha medo do
que as pessoas poderiam pensar, mas depois vi que não estava fazendo
nada de errado”.
Falando de política, atualmente ele é
filiado ao PDT, e diz que sofreu preconceito do PT quando tentou se
candidatar a uma vaga na Câmara federal. “Era a época do mensalão e eles
estavam com medo de vincular a imagem com o sofazão”. Essa é sua
terceira empreitada eleitoral. “Eu quero defender a liberdade das
pessoas e acabar com o preconceito”, finalizou.
Terra.com
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