Paciente de UTI escreveu bilhete pedindo socorro!
Paciente de UTI em Curitiba escreveu bilhete pedindo socorro à família. Mulher ouviu que diretora ameaçou desligar o respirador
CURITIBA - Uma paciente que ficou internada na UTI do Hospital
Evangélico, em Curitiba, em dezembro de 2012, implorou aos familiares
para sair do local. A família confirmou que a mulher internada escreveu
um bilhete com o pedido.
— Eu preciso sair daqui, pois tentaram hoje me matar desligando os aparelhos - diz um trecho. A paciente contou ao G1 que, quando ainda estava entubada, escutou alguém mandando desligar o aparelho.
—
Era 8h da manhã, a médica Vírginia Soares de Souza disse que queria ver
se eu aguentava até as 16h. Mas, assim que ela deu as costas, a
enfermeira colocou o respirador e disse que não deixaria que fizessem
isso comigo — contou.
Trechos de gravações do depoimento prestado pela médica Virgínia Soares Souza, foram obtidos com exclusividade pela RPC TV, afiliada da TV Globo no Paraná.
Nas
transcrições, ela afirma que foi mal interpretada por falas como “Quero
desentulhar a UTI que está me dando coceira”. A frase teria sido dita
pela médica, mas a origem da gravação não foi informada pela polícia.
Virgínia
é acusada de praticar eutanásia em pacientes internados em estado grave
desde 2006, quando ela começou a chefiar o departamento. Segundo a
investigação, Virgínia, presa na terça-feira, "antecipava óbitos" ,
principalmente de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). Testemunhas
dizem que ela pouparia quem estava na UTI bancado por planos
particulares.
A polícia recolheu prontuários relacionados às
mortes nos últimos seis anos para saber se os óbitos naquela UTI podem
ter sido provocados pela médica. O telejornal da RPC, filiada à TV
Globo, exibiu nesta quarta-feira entrevista com um enfermeiro que
trabalhou no hospital de 2004 a 2006. Ele afirmou ter visto a médica
desligando um aparelho e provocando a morte de um dos pacientes.
—
O paciente da UTI tem dois pontos críticos, que são a ventilação
mecânica e as medicações que servem para manter a pessoa viva. Ela
interrompia um dos dois, ou os dois —, afirmou o enfermeiro, que
preferiu não ser identificado.
Delegado não descarta ‘quadrilha da morte’
O
delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Marcus Michelotto, afirma
que há indícios de materialidade e de autoria suficientes para que fosse
instalado o inquérito policial e pedida a prisão cautelar da médica.
Virgínia foi presa durante expediente no hospital.
— Nossa
investigação tem cerca de um ano, mas esses fatos podem ter ocorrido há
mais tempo. Estamos trabalhando para a coleta de provas —, afirmou.
Michelotto
não descarta que haveria uma “quadrilha da morte” no hospital, com o
envolvimento de outros funcionários nos supostos crimes.
— Se
havia isso (a provocação das mortes), ela não fazia sozinha. Mas não
podemos pré-julgar —, disse ele, que vai investigar as mortes naquela
UTI nos últimos seis anos, período em que Virgínia chefiava o
departamento.
A delegada Paula Brisola explicou que a prisão da
médica foi estabelecida pela Justiça para garantir a instrução do
processo e a segurança da população.
— O inquérito corre sob
sigilo judicial e não podemos dar todas as informações sobre a
investigação desses casos, que qualificamos como homicídios —, disse a
delegada em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira. Segundo
ela, outras testemunhas reforçaram a acusação do enfermeiro, de que a
médica desligava os aparelhos para provocar a morte dos pacientes.
O
advogado da médica, Elias Mattar Assad, afirma que vai solicitar à
Justiça liberdade para sua cliente. Segundo ele, houve precipitação na
prisão.
— Normalmente o procedimento é primeiro investigar, depois
ouvir as pessoas e só então, se for o caso, pedir a prisão. Aqui
primeiro prenderam para depois investigar —, disse.
Desde
terça-feira, quando a médica foi presa, várias pessoas procuraram a
delegacia para denunciar “atitudes suspeitas” de Virgínia. Na ação
policial, dentro do hospital, foram apreendidos prontuários médicos e
outros documentos relativos a internações e mortes de pacientes.
O
Conselho Regional de Medicina (CRM) informou que investigará a conduta
da médica. O Hospital Evangélico abriu uma sindicância para apurar o
caso.
Suspeita chefia UTI há seis anos
A
médica atua no hospital desde 1988 e é chefe da UTI desde 2006. De
acordo com o Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa),
ela é suspeita da prática de eutanásia, que é a indução à morte com
consentimento do paciente, além de maus-tratos aos internados. O caso
corre em segredo de justiça. A médica está detida no Complexo
Médico-Penal, em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba.
Uma
ex-enfermeira, que também não quis se identificar, ouvida pelo G1,
disse que a médica foi suspensa por um mês em 2011 por maltratar uma
funcionária.
— Eu trabalhei no hospital em 2005 e presenciei
muitas cenas de maus-tratos contra funcionários. Tanto que não tinha
quem não soubesse da frieza e grosseria dela. Essa suspensão eu soube
por um colega. Eu não gostava de trabalhar com ela, como a maior parte
dos outros. Eu nunca presenciei, mas o que 'rolava' nos corredores é que
ela fazia isso com os pacientes também.
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