Professoras se casam em escola particular de Brasília.
Por Marcos Marinho
Em uma sociedade marcada pela intolerância uma escola na Asa
Norte, em Brasília, deu discutível exemplo de cidadania e respeito à
diversidade ao servir de palco para o casamento de duas professoras nas
dependências do colégio.
Na ocasião, tratada com naturalidade entre a comunidade
escolar, pouca diferença fez para crianças, pais e docentes se o casal
era de homossexuais. A relação entre pessoas do mesmo sexo, que, para
muitos ainda é um tabu, foi tratada como uma situação normal dentro do
ambiente de aprendizagem e no contexto familiar, segundo especialistas
ouvidos pelo jornal ‘Correio Braziliense’. Também não há uma idade certa
para tocar no assunto com os pequenos e alguns defendem inclusive que a
abordagem seja feita já nos primeiros seis anos de vida de meninos e
meninas.
Durante três meses, toda a comunidade da ‘Vivendo e
Aprendendo’ se envolveu com os preparativos para o casamento de Andressa
Vieira de Oliveira, 24 anos, e Dianne Prestes, 26. “Foi uma bonita
oportunidade de trabalharmos valores como respeito e tolerância ao
diferente. Mais do que uma cerimônia, houve um processo de construção
coletiva”, opinou a mãe de uma ex-aluna do colégio e psicóloga Carla
Dozzi, 36, moradora do Lago Norte. Para ela, o tema deve ser tratado nas
escolas como parte do cotidiano já na primeira infância, que vai até os
7 anos. “Esse é um momento em que as crianças não trazem preconceito, o
afeto vem em primeiro lugar”, completou.
Carla contou que o grupo de pais e alunos se reunia
constantemente para decidir qual roupa usaria na cerimônia, qual música
seria escolhida, além de detalhes da decoração da festa. Todos tocavam
no assunto com muita naturalidade. “Essa situação não causou
estranhamento algum, pelo contrário, ser dois homens, duas mulheres ou
um homem e uma mulher, não uma era uma questão para as crianças. O que
tínhamos ali era a celebração de duas pessoas queridas que estavam se
unindo, não houve constrangimento ou questionamento negativo”, afirmou a
psicóloga.
A professora do Departamento de Serviço Social da
Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do Grupo de Trabalho de
Combate à Homofobia da instituição, Valdenizia Bento Peixoto, também
defende que a questão seja tratada na tenra infância, levando em conta
apenas o nível de cognição dos pequenos. “Uma criança de 2 anos, por
exemplo, ainda não vai entender muitos dos termos. Mas o debate deve ser
inserido de forma natural e não pode ser encarado como estranho ou
anormal e fora do padrão, mas como uma nova forma de sociabilidade e de
família dentro da sociedade”, explica.
Sobre como abordar o tema, Valdenizia sugere que os pais
esperem o filho perguntar e tirar dúvidas sobre o assunto. “A resposta
deve ser simples e natural, sem fantasias e, acima de tudo, combater
preconceitos”, reforçou. Para ela, familiares e educadores devem
trabalhar juntos nesse processo. “A escola tem o papel da educação
formal, mas é fundamental também na construção da personalidade das
crianças, desse sujeito que está se formando”, completou.
Na casa da professora Adriana Tosta Mendes, 40 anos, moradora
da Asa Norte, nunca foi preciso dar muitas explicações ao pequeno
Tedros Tosta Mendes de Oliveira, 6, sobre o tema. “Temos muitos amigos
homossexuais e convivemos bastante com eles. Somente uma vez ele
perguntou se existia casal de homens e nós dissemos que sim, foi o
suficiente”, contou.
Para o presidente da Associação de Pais de Alunos das
Instituições de Ensino do Distrito Federal (Aspa-DF), Luis Claudio
Megiorin, o assunto pode ser tratado na escola desde que os pais sejam
informados sobre como se dará a abordagem. “Deve ser abordado do ponto
de vista dos direitos humanos, do respeito às pessoas. Somos contra
qualquer tipo de discriminação, social, racial ou de orientação sexual”,
comentou.
“Foi uma bonita oportunidade de trabalharmos valores como respeito e tolerância ao diferente” Carla Dozzi, psicóloga
Fonte: Correio Braziliense (Thaís Paranhos)
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