Apenas três cidades têm atendimento para crianças com microcefalia na PB

22 fevereiro

Médica Adriana Melo teme que crianças com malforamação fiquem sem atendimento (Foto: Artur Lira / G1)

Dos 223 municípios do Estado, apenas três contam com atendimento especializado para acompanhar gestantes e crianças com microcefalia ou malformações sugestivas de infecção congênita do vírus da zika: João Pessoa, Campina Grande e Patos. A falta de distribuição do atendimento tem obrigado mães moradoras de outras cidades a viajarem em busca de exames, consultas e sessões de tratamento para seus filhos.
A médica paraibana Adriana Melo, especialista em medicina fetal que estuda a relação do vírus da zika com a malformação cerebral em bebês, fez um alerta de que o governo precisa se preparar para prestar assistência às mães grávidas de bebês com a síndrome e para as crianças que estão nascendo com este problema. Segundo ela, o aumento no número de casos pode gerar um caos, caso o serviço não seja descentralizado.
“Meu medo é que daqui a algum tempo surjam vacinas para o problema e as crianças que já nasceram sejam tratadas apenas como números”, disse Adriana Melo. Um relatório do Ministério da Saúde, divulgado na quarta-feira (17), mostra que os casos de malformação confirmados subiram para 56 e outros 423 seguem em investigação. Em todo o Brasil já são 5.280 casos, sendo 508 confirmados e 837 descartados.

Por acompanhar casos em Campina Grande, no Agreste da paraíba, Adriana tem percebido a dificuldade de algumas gestantes que viajam de outras cidades do interior para buscar atendimento. Os dados da Secretaria Municipal de Saúde confirmam a necessidade de descentralização.

No Hospital Pedro I, que tem atendimento especializado para a síndrome, das 276 grávidas que estão sendo acompanhadas, 158 são de Campina Grande e 118 são de outras cidades da Paraíba. Ainda segundo os dados, das 27 crianças que nasceram com problemas de malformação, apenas quatro são de Campina Grande.



“A gente sabe que no Brasil é ilegal abortar e isso quer dizer que a mãe vai ter o filho desse jeito [com malformação]. Tem quem dar apoio para ela ter essa criança. Qual a mãe que terá condições de trabalhar com um filho assim? Quem ela vai pagar as contas da casa? Meia bolsa, meio salário é suficiente? Quem vai pagar o transporte dessa criança para o tratamento? Adianta uma mãe viajar 200 ou 300 quilômetros para a criança fazer 40 minutos de fisioterapia? Vai ter resultado?”, questionou a médica.

Em Campina Grande, a Secretaria de Saúde do município criou um ala de serviço especializado em microcefalia, no Hospital Municipal Pedro I. O centro conta com um grupo de ginecologista, neurologista, ortorrino, fonoaudiólogo, fisioterapeutas e enfermeiros que acompanham mães grávidas com casos suspeitos e crianças que nasceram com a síndrome.
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Mães de outras cidades precisam viajar em busca
“Pela necessidade que essas crianças têm de serem acompanhadas, não esperamos por outras entidades e criamos a ala. Antes tínhamos cinco casos de microcefalia em um ano e hoje estamos vivendo essa triste realidade. Eu estou achando lento o apoio das entidades maiores, que é de onde também recebemos repasses financeiros. Hoje o que temos é recursos próprios e Campina Grande já é referência para 33 cidades de maneira informal”, disse a Secretária de Saúde de Campina Grande, Luzia Pinto.

Em João Pessoa, a secretaria de saúde do município ampliou as linhas de cuidados do Centro de Referência Municipal de Inclusão para Pessoa com Deficiência (CRMIPD), para os atendimentos aos bebês que nascem com mal formação cerebral. Segundo a assessoria de imprensa da secretaria, o Centro recebe os encaminhamentos das Unidades de Saúde da Família (USFs) e regula as consultas também de outras cidades por meio do Serviço de Único de Saúde (SUS). Já na cidade de Patos os atendimentos estão acontecendo na maternidade Peregrino Filho.

A Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba informou, através de sua assessoria de imprensa, que no ano passado foi apresentado um protocolo de vigilância e respostas as ocorrências de malformação cerebral relacionada a infecção pelo vírus da zika.

O projeto apresentado pelo governo, ao G1, mostra que existência de uma rede de triagem em hospitais e institutos de João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Guarabira, Picuí, Monteiro, Patos, Itaporanga, Catolé do Rocha, Cajazeiras, Sousa, Princesa Isabel, Itabaiana, Pombal, Mamanguape e Queimadas para avaliar as gestantes. Entretanto, quando se tratam de casos confirmados e suspeitos, as referências para os 223 municípios do estado se limitam a unidades de saúde de três cidades: João Pessoa, Campina Grande e Patos.
Segundo a Gerente Executiva de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Patrícia Assunção, que é responsável pelo planejamento de atendimento especializado na Paraíba, está sendo fechado um acordo para definir por quanto tempo as crianças que estão nascendo com malformação serão acompanhadas nestes três polos. A intenção do governo é que após os seis meses de vida as crianças sejam acompanhadas pela Fundação de Apoio ao Deficiente (Funad). Entretanto, a gerente não confirmou quando essa definição deve ocorrer, nem informou um prazo para o início da descentralização do atendimento de João Pessoa, Campina Grande e Patos.

Casos confirmados

Subiu para 56 o número de casos de microcefalia e/ou malformações sugestivos de infecção congênita na Paraíba, de acordo com dados do Ministério da Saúde publicados na quarta-feira.

No último relatório, que tinha sido divulgado no dia 12, eram 54 casos. Outros 287 casos foram descartados e 423 seguem em investigação, somando 766 notificações desde o ano passado. Em todo o Brasil já são 5.280 casos, sendo 508 confirmados e 837 descartados.
O estado segue em quarto lugar no ranking dos casos confirmados, ficando atrás apenas de Pernambuco (182), Bahia (107) e Rio Grande do Norte (70). Os casos foram registrados em 203 cidades de 13 unidades da federação, incluindo o Distrito Federal.
O Ministério da Saúde enfatizou que está investigando todos os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central informados pelos estados e a possível relação com o vírus da zika e outras infecções congênitas. A microcefalia pode ter como causa diversos agentes infecciosos além do zika, como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes viral e outros agentes infecciosos.

O orgão ainda orienta que as gestantes adotem medidas que possam reduzir a presença do mosquito Aedes aegypti, com a eliminação de criadouros, e proteger-se da exposição de mosquitos, como manter portas e janelas fechadas ou teladas, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelentes permitidos para gestantes.


G1PB

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