De entregador de Jornal para um dos homens mais procurados do Brasil.Traficante Nem diz que metade do seu faturamento ia para policiais
RIO - Num longo depoimento na sede da PolĂcia Federal na madrugada de quinta-feira, acompanhado por um grupo restrito de policiais federais, o traficante AntĂ´nio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, preso na quarta-feira na Lagoa , afirmou que metade de tudo que faturava com a venda de drogas era entregue a policiais civis e militares da banda podre. A propina gorda seria entregue a numerosos agentes pĂşblicos. O traficante deu detalhes, inclusive datas, de casos de extorsĂŁo. Ainda no depoimento, o criminoso afirmou que, devido Ă s constantes extorsões, em alguns perĂodos seu faturamento era zero. Segundo algumas estimativas da PolĂcia Civil, nĂŁo confirmadas no depoimento, o bandido faturava mais de R$ 100 milhões por ano.
- Metade do dinheiro que eu ganhava era para o "arrego" (gĂria para propina) - afirmou Nem.
- Metade do dinheiro que eu ganhava era para o "arrego" (gĂria para propina) - afirmou Nem.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse em entrevista ao "RJ-TV", da TV Globo, que gostaria muito que Nem falasse mesmo o que sabe, por conhecer "a arquitetura do tráfico de drogas e como são os meandros da corrupção".
- Ele tem uma prestação de contas muito sĂ©ria e importante a fazer Ă sociedade fluminense. Ele tem que prestar contas sobre a corrupção de agentes pĂşblicos. Eu acho que isso faria com que fosse dado um passo importante no combate Ă criminalidade - disse Beltrame, por telefone, de Berlim, onde está apresentando os projetos na área de segurança para a Copa e as OlimpĂadas.
O bandido contou no depoimento que uma parte do seu lucro com a venda de drogas era gasta em assistencialismo na Rocinha, com pagamento de enterros, fornecimento de cestas básicas, compra de remédios e realização de obras.
- Quando me pediam, eu comprava tijolos e financiava a construção de casas na comunidade - disse.
PF diz que monitora outros traficantesO delegado Victor Hugo Poubel, coordenador da Delegacia de Combate ao Crime Organizado da PF, garantiu que as informações passadas pelo bandido serão investigadas em inquérito. Poubel afirmou também que outras prisões podem ocorrer nos próximos dias e que a PF tem acompanhado a movimentação dos bandidos do Rio, em especial os da Rocinha.
PF diz que monitora outros traficantesO delegado Victor Hugo Poubel, coordenador da Delegacia de Combate ao Crime Organizado da PF, garantiu que as informações passadas pelo bandido serão investigadas em inquérito. Poubel afirmou também que outras prisões podem ocorrer nos próximos dias e que a PF tem acompanhado a movimentação dos bandidos do Rio, em especial os da Rocinha.
- Nossos policiais da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) estão monitorando a movimentação de bandidos que porventura tentem fugir da Favela da Rocinha. Estamos trabalhando intensamente, com apoio da Secretaria de Segurança, numa troca constante de dados de inteligência - afirmou Poubel.
Durante a operação de quarta-feira na Gávea , quando o traficante Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefe do tráfico no São Carlos e sócio de Nem, e seu braço direito Sandro Luiz de Paula Amorim, o Lindinho ou Peixe, foram presos pela PF, os agentes apreenderam pelo menos dez celulares. No verso dos aparelhos havia a etiqueta "arrego". Coelho, no momento da prisão, estava sendo escoltado por três policiais civis, sendo dois da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Cargas (Carlos Renato Rodrigues Tenório e Wagner de Souza Neves) e um da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Saúde Pública (Carlos Daniel Ferreira Dias). O grupo também contava com dois ex-PMs: José Faustino Silva e Flávio Melo dos Santos.
- Parece que cada celular tinha uma função. Achamos curioso: no verso de pelo menos dez dos aparelhos havia essa referência ao "arrego". Supomos que os traficantes usavam os celulares só para receber ligações da banda pobre e providenciar a propina - afirmou o delegado Fábio Andrade, da DRE da PF.
Coelho era um dos bandidos mais importantes da estrutura atual da Favela da Rocinha. Ele teria instalado vários laboratĂłrios para refinar cocaĂna, trazendo da BolĂvia pasta-base da droga. AlĂ©m de controlar parte do complexo de SĂŁo Carlos, atualmente ocupado por uma Unidade de PolĂcia Pacificadora, o criminoso foi encarregado de assumir tambĂ©m o comando das favelas de MacaĂ©, apĂłs a morte do traficante Roupinol, ocorrida em 2010. Desde 2005, policiais federais investigavam o pagamento de propina a policiais da banda podre no Rio.
Nem chegou ao Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste do Rio, na tarde de quinta-feira. O comboio que levou o traficante e outros bandidos presos no entorno da favela da Rocinha, na noite de quarta-feira, passou pelas principais vias expressas da cidade. De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, o traficante teve o cabelo cortado, seguindo o mesmo procedimento que aconteceu com Alexander Mendes da Silva, o Polegar da Mangueira, preso em setembro no Paraguai. Ele também passou a usar uniforme padrão: camisa verde, calça jeans e tênis azul.
Em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), Nem terá direito a apenas duas horas de banho de sol por dia. Nas outras 22 horas, deve ficar confinado numa cela individual. O Bangu 1 possui quatro galerias com 12 celas individuais. Há alguns anos, uma das galerias já era destinada a presos no RDD. Considerado o presĂdio mais seguro do Estado, Bangu 1 abrigava presos de alta periculosidade - lĂderes de facções de tráficos de drogas.
A possibilidade de ocupação da favela da Rocinha por forças policiais neste fim de semana ficou mais forte com um comunicado da Aeronáutica divulgado nesta quinta-feira. Segundo a Força Armada, o espaço aĂ©reo sobre a comunidade será fechado entre as 2h do domingo e a tarde da prĂłxima segunda-feira. Segundo o RJ-TV, da TV Globo, está prevista a utilização de helicĂłpteros com sensores e câmeras na operação de tomada da favela pelas forças de pacificação da polĂcia. TambĂ©m nesta quinta-feira, o governador SĂ©rgio Cabral afirmou que a ocupação da Rocinha, na Zona Oeste do Rio, será concluĂda atĂ© domingo.
- É mais um passo importante na polĂtica de pacificação das comunidades para oferecer paz, dessa vez aos moradores da Rocinha e do Vidigal, que se somam Ă s demais comunidades pacificadas. AtĂ© o final dessa semana, nĂłs teremos concluĂdo esse processo - disse ele ao site G1, da TV Globo.
Desde a semana passada, a polĂcia vem apertando o cerco no entorno da favela. No Ăşltimo dia 3, agentes da polĂcia civil fecharam uma clĂnica de aborto e uma fábrica, numa operação que envolveu cerca de 65 policiais das Delegacias de RepressĂŁo aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), do Consumidor (DECON), de Roubos e Furtos de AutomĂłveis (DRFA), de Combate Ă s Drogas (DCOD) e da Polinter. TambĂ©m participam da operação agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), da Coordenadoria de Informações e InteligĂŞncia Policial (CINPOL), da 14ÂŞ DP (Leblon) e da 15ÂŞ DP (Gávea). Na ocasiĂŁo, os policiais tambĂ©m encontraram 22 motos roubadas, que foram encaminhadas para o Pátio Legal da Delegacia de Roubos e Furtos de AutomĂłveis (DRFA), em Deodoro.
COLABOROU Elenilce Bottari
Desde a semana passada, a polĂcia vem apertando o cerco no entorno da favela. No Ăşltimo dia 3, agentes da polĂcia civil fecharam uma clĂnica de aborto e uma fábrica, numa operação que envolveu cerca de 65 policiais das Delegacias de RepressĂŁo aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD), do Consumidor (DECON), de Roubos e Furtos de AutomĂłveis (DRFA), de Combate Ă s Drogas (DCOD) e da Polinter. TambĂ©m participam da operação agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), da Coordenadoria de Informações e InteligĂŞncia Policial (CINPOL), da 14ÂŞ DP (Leblon) e da 15ÂŞ DP (Gávea). Na ocasiĂŁo, os policiais tambĂ©m encontraram 22 motos roubadas, que foram encaminhadas para o Pátio Legal da Delegacia de Roubos e Furtos de AutomĂłveis (DRFA), em Deodoro.
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