Mulher que ‘chora pedras’
Um possível diagnóstico deu uma nova esperança para solucionar a doença misteriosa que faz uma professora de 34 anos de Lins (SP)
expelir uma membrana branca pelo olho direito. Nesta quinta-feira (18),
Laura Ponci Campos foi encaminhada para especialistas no Hospital de
Olhos, em Bauru (SP), que apresentaram uma possível solução para o
problema que ela enfrenta há 19 anos.
Entenda o caso
Diferente da conjuntivite lenhosa,
diagnosticada pela maioria dos 30 médicos procurados por Laura, um
especialista em canal lacrimal acredita que a professora sofre de uma
conjuntive crônica causada por uma bactéria.
“A nossa suspeita é que isso não seja uma
conjuntivite lenhosa e sim em um quadro de conjuntivite crônica de
cananiculite, que é um tipo de bactéria positiva que se instala dentro
do sistema da via lacrimal e ela fica soltando essas colônias de
bactérias que formam esses grânulos secos”, explicou o oftalmologista
Raul de Paula.
De acordo com Raul de Paula, o que acontece
com Laura é inédito. “O caso dela é bastante anormal. É difícil uma
membrana assim sair de forma espontânea e diariamente, isso que é o
inusitado do caso. Geralmente, o paciente tem a membrana localizada
próxima ao canal lacrimal”, explica o médico.
Durante o exame, o oftalmologista retirou a
membrana e se assustou com o tamanho. Depois de sofrer por alguns
minutos com agulhas e seringas, e após 19 anos de incertezas, enfim,
Laura ouviu a boa notícia.
Antes da consulta, a reportagem do TEM
Notícias mostrou o vídeo da membrana saindo do olho da professora para
outro oftalmologista no Hospital de Olhos. Por cinco minutos, o doutor
André Hamada analisou o vídeo repetidas vezes. Além disso, o
especialista também assistiu a entrevista em que a professora contou os
sintomas. Por não ter conseguido identificar a doença de Laura, a
paciente foi levada para uma consulta detalhada.
Primeiro, o médico olhou as dezenas de exames
já realizados e todos com resultados normais. Na sequência, o
oftalmologista começou a examinar Laura e percebeu que a membrana
misteriosa estava no olho. Durante cinco minutos, André Hamada analisou o
caso e chamou o especialista em canais lacrimais.
Especialista acredita que a professora possui uma bactéria no canal lacrimal (Foto: Reprodução/TV Tem)
A demora é mistério
Segundo o especialista, a doença não é uma descoberta recente da
medicina, no entanto, o tamanho da membrana e a demora para o
diagnóstico é um mistério. “Se algum dos 30 médicos procurados por Laura
tivesse pensando na canaliculite, ela não teria sofrido por tanto
tempo”, ressalta Raul.
“A Laura vai bater o recorde de todos os meus
casos, tenho 22 anos de oftalmologia e já diagnostiquei oito casos
dessa doença. O que demorou mais tempo para ser diagnosticado foi três
anos e o caso dela, de 19 anos, é algo absurdo. Tem que entrar para a
literatura e ser documentado”, diz o médico de Bauru.
A cura para a bactéria no olho de Laura está
em um procedimento cirúrgico que demora 15 minutos. O médico, agora, só
vai esperar 10 dias para o resultado do exame laboratorial da membrana.
“É um procedimento muito rápido, é uma abertura do canal que dura em
torno de 15 minutos”, explica Raul.
Especialista de Bauru diz que nunca viu um caso
semelhante (Foto: Reprodução/TV Tem)
semelhante (Foto: Reprodução/TV Tem)
Esperança
Há 19 anos, uma membrana branca sai do olho direito da educadora
e, momentaneamente, o incômodo e a vermelhidão vão embora. Segundo a
mulher, até dormindo a membrana “pula” do olho e desde a primeira vez
que aconteceu o caso, já foram mais de 30 médicos consultados e somente
diagnósticos desencontrados.
“Já passei por todos os especialistas
possíveis. Até médicos de ouvido e garganta já consultei e eles falam
que a doença é uma conjuntivite lenhosa, que é a falta de uma enzima
chamada plasminogênio. No entanto, já fiz diversos exames que eles
solicitaram e todos deram resultados normais”, conta a professora.
A consulta em Bauru trouxe a esperança de
cura. “Com o diagnóstico feito pelo especialista em Bauru, voltei a ter
esperança. Quero voltar a trabalhar por que amo o que faço. Minha vida
vai ficar muito melhor depois da operação”, acredita a professora.
Segundo Laura, nesses 19 anos atrás de um
tratamento, a visão do olho direito nunca foi afetada. A professora
conta ainda que alguns médicos cogitaram a hipótese dela mesma colocar a
membrana no olho. Outros, mesmo sem saber do que se trata, disseram que
ela terá que conviver com isso pelo resto da vida.
Globo
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