Aos 90 anos, morre de insuficiência respiratório o poeta cordelista Manoel Anísio
A literatura de cordel perde um dos seus mais importantes divulgadores. Morreu na noite desta quinta-feira (7), no Hospital Regional de Guarabira, o poeta Manoel Anísio, aos 90 anos, vítima de insuficiência respiratória.
Manoel estava em sua residência, no bairro do Juá, quando passou mal e foi levado por uma viatura do SAMU ao Hospital Regional, foi atendido, mas não resistiu às complicações e acabou falecendo. O corpo está sendo velado na central de velórios Rosa Master, no Centro de Guarabira, e o sepultamento será às 16h.
Manoel Anísio sempre foi um andarilho, divulgador da literatura de cordel nas feiras por todo o Nordeste brasileiro. Percorreu milhares de quilômetros até quando teve condições físicas. Dizia que conheceu mais 500 municípios vendendo folhetos nas feiras. Pernoitava em hotéis, pousadas, casas de amigos poetas e até dentro de carro.
Amigo e compadre do poeta Chico Pedrosa, Manoel Anísio foi quem incentivou Chico e o inseriu no mundo do cordel. “Eu sou padrinho do primeiro filho de compadre Chico Pedrosa. Andamos muito pelas feiras juntos, vendendo cordel. É um grande amigo”, disse Manoel numa conversa que teve com o editor do Portal25horas.
Além dos folhetos, no auge da juventude, Manoel era proprietário de uma fábrica da ‘Banha do Índio’, que funcionava no bairro do Juá, numa garagem ao lado de sua residência. Também fabricava as tampinhas para embalagens da banha e comercializava aos montes.
O negócio como vendedor de cordel e banha possibilitou ao poeta acesso aos bens de consumo. Carros novos, mulheres, bebida e quase tudo que desejava consumir o dinheiro que ganhava lhe proporcionava acesso sem dificuldades. Alcançou a prosperidade e era considerado homem de posses na cidade. Dava festas em sua casa e juntava muitos amigos quando estava em Guarabira.
Embora tenha sido autor de muitas poesias declamadas e cantadas nas andanças, não teve o cuidado de publicar. As obras existiam na cabeça dele e declamava em conversas com amigos em seus últimos dias. A memória já não ajudava, mas a lucidez impressionava a todos que tinham oportunidade de uma prosa com o “velho poeta”.
A poesia popular está de luto com morte de Manoel Anísio. Morava sozinho e não aceitava que algum filho ficasse com ele. Durante o dia, era assistido por uma senhora que era remunerada pelo serviço doméstico. As poesias últimas declamadas na calçada de casa sempre eram saudosistas e de lamento por não ter mais saúde. Contava o que já foi.
Manoel Anísio,
“Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre”. (Ariano Suassuna).
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