O “nó” que o padre não soube dar e o “céu” que vi naquele lugar

13 janeiro

Esta noite de sexta-feira (10) poderia ser uma noite qualquer. Um dia comum. Mas uma grande aglomeração de carros, motos e bicicletas indicava o contrário. A agitação da cidade acenava para uma noite totalmente diferente em Pilõezinhos. Um mini trio elétrico reproduzia acordes dos jovens que anunciavam: “É chegada a hora! Vamos começar a Festa de São Sebastião com uma grande carreata”.
Por curiosidade ou por fé, as calçadas se tornaram verdadeiras arquibancadas preenchidas por moradores ou visitantes que acenavam animados pela oportunidade de mais um ano ver a linda festa. Afinal são 164 anos! Um longo percurso ornamentado por nossos antepassados – onde com lágrimas, suor e sangue pedem a continuação da tradição.
Quem passeava na carreata recebia a benção do padre Joaquim. Os olhos já marejavam… Tentava conter a emoção… A mesma herdada de meus pais. Uma vez inserido na história, toda vez que se escuta a Banda de Música executando “Na Glória do Céu” (Hino do Padroeiro) é impossível não se emocionar.
Na frente da Igreja Matriz estavam os fiéis a esperar o hasteamento das bandeiras. A tradição indica que é ali que a festa começa de verdade. Estava bem próximo para ver, como nunca vi antes. Estava concentrado. A nobre missão foi confiada aos padres Joaquim (anfitrião) e Adauto (visitante), além do diácono Lázaro (filho da terra). Solenemente as bandeiras do Vaticano, da Diocese e da Paróquia eram elevadas, só que ao final o Pe. Adauto olha para mim e sentencia: “chega Rafael, eu não sei dar o nó”. Ao socorrer o padre e depois o diácono, fiz minha experiência pessoal e executei com um carinho especial, por razões especialmente nobres.
Logo entendi que não estava ali apenas para erguer bandeiras, mas para reafirmar que a tradição não pode cair. O nó não foi tão firme comparado a firmeza da fé do nosso povo. A bandeira ficou alta, mas não chega aonde chegam as preces da comunidade. As bandeiras tremulavam como quem me lembrava antigos noitários (já falecidos) que viveram tantas emoções nesta festa. Enfim, representei, improvisadamente, uma geração consciente da sua obrigação: “manter essa tradição viva como nosso maior patrimônio de fé e devoção”.
Respeito quem não sente ou entende nada desse momento. Só peço que respeite os que sentem e entendem. O sentimento é tão profundo que não dá para imaginar um janeiro de outra forma.
Depois ao iniciar a Santa Missa, a imagem peregrina de São Sebastião voltou para sua casa original – depois de passar por cada comunidade aquecendo os corações para o novenário. De novo bateu forte emoção. A pequenina imagem do Santo Mártir chegava trazendo a experiência de fé dos quarteirões, impregnada naquelas flechas, naquela coroa, naqueles pequeninhos braços abertos. É só uma imagem, mas quão linda é sua representação. Só consegui visualizar Deus e seu servo fiel que pagou com a vida, que derramou seu sangue reafirmando seu amor ao Senhor. Quem ver apenas a “imagem” na limitação material é cego do coração, ver apenas com os olhos.
No mesmo instante vi aquela igreja transformada num grande céu. Um lindo céu! E se tudo terminasse ali mesmo e tivesse a santa oportunidade de entrar no santuário celeste, a primeira e única coisa que lembraria de pedir era para ver São Sebastião e abraça-lo e contar o quanto fomos felizes pelo seu testemunho e o quanto valeu a pena sua santidade. E se pudesse o “alugar” alguns minutos contaria o que vejo acontecer em Pilõezinhos por causa dele. E se ele me apresentasse a Deus – que privilégio -, gostaria muito de dizer com os olhos, por que palavras não teria, o que sinto a cada janeiro. Só pelo olhar ele saberia…
Rafael San


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