Caetano, aos 80, segue com uma versão muito complexa da música popular brasileira

08 agosto

 

Foto: divulgação

Na década de 1990, Caetano Veloso, que faz 80 anos neste domingo, sete de agosto, fundiu, no álbum Livro, a percussão da música baiana com a sonoridade dos arranjos que o maestro Gil Evans escrevera para Miles Davis, gênio consumado do jazz. O disco saiu na mesma época de Verdade Tropical, denso volume de memórias em que,  como num romance de formação, se debruça sobre a infância, a juventude, o Tropicalismo, a prisão e o exílio.

Um pouco antes, em Tropicália 2, comemorara, ao lado de Gilberto Gil, os 25 anos do Tropicalismo. O rap Haiti era contundente retrato das nossas desigualdades. Em Noites do Norte, já nos anos 2000, Caetano, que defende a necessidade de uma segunda abolição, trouxe a prosa de Joaquim Nabuco para sua música (“A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do Brasil”). E, a partir de , por quase uma década, fez rock e muitas outras coisas com um power trio.

Em 2015, excursionou com Gil num duo acústico que celebrava amizade e parceria musical. Em 2018, caiu na estrada com os filhos, Moreno, Zeca e Tom, num show comovente chamado Ofertório. Agora, em 2022, em seus 80 anos, excursiona com Meu Coco, título do álbum que lançou em 2021.

Caetano Veloso é um artista que orgulha sua geração e seus ouvintes. Um compositor de música popular no nível dos melhores do mundo, um letrista excepcional.

Tem muitos outros méritos: como intérprete do que compôs e do que gravou de inúmeros autores, brasileiros ou não. Como artista que chamou atenção para o papel da canção popular na construção da nossa identidade. Como cidadão que pensa o Brasil com espantosa lucidez, a despeito do que dizem seus críticos. Caetano é diferente e original. Do mesmo modo que são diferentes e originais os caminhos que enxerga para o Brasil em seu destino como Nação.

Caetano Veloso diz que, onde quer que vá e como quer que lá chegue, levará consigo sua versão muito complexa da música popular brasileira – manifestação riquíssima que nunca mais foi a mesma desde que ele apareceu naquele festival de 1967, cantando uma marchinha que anunciava o novo em seus versos e nas guitarras que a acompanhavam.

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