Aos 30 anos, jovem com deficiência visual lança livro de poesias, em Araruna, PB
Jaqueline Pontes, ou melhor, Jaqueline dos Teclados, artisticamente falando, é uma jovem brilhante, cheia de criatividade e protagonista de uma fascinante história de superação. Uma menina que não se limitou à sua deficiência visual total e descobriu seus talentos. Ela também é cantora, compositora e multi-instrumentista.
Mas para chegar a conquistar tudo isso, soube encarar as barreiras que a vida lhe deu. Jaqueline nasceu prematura, aos sete meses, ficou três meses internada em um hospital de São Paulo, e após exposição excessiva na incubadora sem proteção nos olhos, acabou perdendo a visão.
Jaqueline Pontes entendeu que a vida é feita de desafios e nunca pensou em desistir. Ela é a prova viva de que, apesar de qualquer deficiência, é possível tocar, cantar e escrever letras com maestria.
“Ao estudar no instituto dos cegos em João Pessoa, aos oito anos de idade, eu me descobri musicista. Descobri que tinha o dom de cantar, e alguns colegas me ajudavam, outros não. Os meus pais sempre foram aqueles que estiveram do meu lado, lutando por mim tanto na questão do musical quanto na vida estudantil. Muitos projetos da minha vida eu não tive apoio, como por exemplo, aqui mesmo na minha cidade quando eu queria montar uma escola de Braille. Na minha carreira artística eu tenho mais apoio de fora do que da minha própria cidade e isso, de certa forma, nos entristece. Falta esse incentivo, não só a mim como pessoa com deficiência, mas quanto artista também”.
Jaqueline faz com que milhares de pessoas tenham mais alegria e esperança, não só por suas músicas, mas também por seu testemunho de vida. O caminhoneiro Geovar Pontes, pai de Jaqueline, expressou o orgulho que tem da filha.
“Ela é uma menina muito maravilhosa. Ela é impossível, é aquela pessoa que catuca tudo, ela quer ser ela de verdade. Tudo que ela faz é durante a noite e no outro dia nos surpreende. Pai fiz uma música, pai eu fiz isso e a gente se alegra com a dedicação dela. Eu sou um pai muito feliz, só tenho que agradecer a Deus pela filha que tenho”.
A dona de casa Cleonice Paulino, mãe de Jaqueline, se emociona ao falar de sua filha, que é um orgulho de ser humano que sabe semear a luz e o amor.
“É muita emoção que sinto. Ela é uma pessoa muito inteligente, esforçada e dedicada no que faz. É um orgulho da gente ter uma filha deficiente, que é talentosa. O sonho dela é sair cantando, tocando no mundo. Ela é uma linda menina que semeia luz e amor para as pessoas. Ela gosta muito de trabalhar, de ajudar os outros, de cuidar de pessoas com deficiência. Ela já chegou ao ponto de ensinar o Braille, de dar aulas de flauta, mas o povo não deu apoio a ela e teve um momento que ela queria parar e nós apoiamos porque ela estava esquentando muito a cabeça com isso”.
Aos 30 anos de idade, Jaqueline Pontes se descobre também cordelista, realizando o sonho de escrever seu primeiro livro de cordéis. Agora como escritora, deseja levar por meio da poesia Nordestina, mensagens de esperança, amor e fé.
Ela reuniu amigos e familiares para o lançamento de sua obra que reúne 20 poemas que abordam diversos temas como religião, saudade, importância do perdão, vivência humana, reflexões sobre amizade e sobre a importância de não desistir dos sonhos e da vida.
“É um sonho realizado, só tenho a agradecer a Deus por essa oportunidade. Eu desejo que cada poema toque o mais profundo do coração de cada leitor que vai adquirir, que vai presentear alguém que ama. Com certeza vai deixar muitas mensagens de esperança para todos aqueles que lerem. O cordel é uma das artes mais belas que existe aqui no Nordeste e a gente deve sempre valorizar aquilo que é nosso, e sempre passar adiante para que as gerações futuras também possam apreciar e praticar. As escolas tem que ensinar cordel para as crianças crescerem apaixonadas pela poesia que é tão maravilhosa”.
Aquilo que Jaqueline Pontes não consegue enxerga através da visão, ela ver com o coração, melhora e presenteia todos que lhe rodeiam, mostrando que a vida pode ser vivida com leveza e que a visão é apenas um detalhe diante de todo o potencial que existe dentro dela.
Por Pedro Júnior, g1 com TV Cabo Branco
Nenhum comentário: